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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Jovens produtores rurais lucram com a criação de aves e suínos no Piauí

Não há dia mais movimentado na rodoviária de Pedro II, município do norte do Piauí, do que sexta-feira. É quando quatro ônibus partem com lotação esgotada com destino a São Paulo. Os passageiros são, em sua maioria, jovens em busca de trabalho na metrópole e um futuro mais promissor que o da região.

A frota migratória costumava ser ainda maior no passado. A demanda fazia com que a empresa de transporte disponibilizasse sete veículos a cada sexta-feira para conduzir a esperança de jovens como Renato de Oliveira Rodrigues, que em 2005 foi tentar a sorte na capital paulista. Oito meses mais tarde, após ter trabalhado numa pizzaria, o rapaz seguia novamente em um ônibus, mas no sentido inverso. Hoje, ao lado da esposa e de mais 12 famílias, Renato integra o assentamemto Paraíso, em Pedro II, onde tem o apoio de um programa que está capacitando agricultores de 16 a 25 anos para as atividades de avicultura e suinocultura. “Aqui você é dono do seu negócio, e para mim foi uma chance de me fixar na terra. Agora só vou para São Paulo a passeio”, conta.

Empreendedorismo rural
A ideia inicial do Projeto Jovem Produtor Rural, realizado em cidades do interior do Piauí, era oferecer aprendizado agrícola, voltado ao manejo de suínos e aves, para que os novos profissionais do campo tivessem oportunidade de trabalho na terra e geração de renda. O conceito se firmou, passou a valorizar o empreendedorismo juvenil do Sertão e agora avança para uma nova fase: desenvolver uma central de comercialização em Pedro II, com uma unidade de beneficiamento da carne dos animais criados para abastecer o comércio, prefeituras, restaurantes, pousadas e hotéis do entorno. “Tem água, terra e apoio... Só não trabalha se não quiser”, diz Roseane Soares do Nascimento, esposa de Renato, que também pretende vender na central os trabalhos artesanais que produz com as outras mulheres do assentamento.

No projeto, lançado em 2006 em uma parceria entre o laboratório farmacêutico Pfizer e a ONG Care Brasil, os jovens foram selecionados em uma escola agrícola e passaram por um treinamento. A seguir, optaram por receber três suínos (duas fêmeas e um reprodutor) ou 33 pintos para dar início à criação. No assentamento Paraíso, as 13 famílias juntaram seus animais para aumentar a produção e criaram uma associação. O valor de cada animal comercializado é rateado entre os associados. Um leitão de 30 dias é vendido vivo por R$ 100; já abatido, com 60 dias ou mais, pode render até R$ 210. As aves vivas são comercializadas por até R$ 20, e beneficiadas são vendidas por R$ 7,5 o quilo.

Mesmo já estabelecidos e na fase comercial, os participantes do programa recebem acompanhamento de engenheiros agrônomos, economistas, veterinários e biólogos, que indicam os melhores tratos produtivos, ambientais e administrativos. 

Escola
A ação do programa não se limitou ao assentamento Paraíso. Também fazia parte da estratégia dos coordenadores João Martins de Oliveira Neto e Francisco Teixeira Barreto Junior, ambos da Care Brasil, apoiar uma instituição de ensino que funcionaria como multiplicadora de outros jovens produtores. A beneficiada foi a Escola Família Agrícola dos Cocais, no município piauiense de São João do Arraial, que, além das galinhas e porcos, ganhou a estrutura de produção: viveiro, horta, pocilgas e abatedouro. 

Os alunos aprendem como cuidar dos animais e tem aulas sobre técnicas de negócios, a serem aplicadas em sua própria produção quando ao serem contemplados pelo projeto. O que é produzido na escola é voltado primordialmente para o consumo dos alunos, mas o excedente é vendido e o dinheiro vai para o caixa da instituição.

Inicialmente, a resistência dos moradores, a escassez de recursos naturais e o custo com alimentação e cuidados dos bichos dificultaram a progressão dos trabalhos. Mas, aos poucos, alunos como Antonio Carlos de Sousa Oliveira, que aos 23 anos tem a chance de iniciar uma criação de suínos, perceberam o valor do benefício. 

Antonio recebeu quatro matrizes e um reprodutor, e quando seus animais tiverem crias ele deverá repassar, também sem nenhum custo, duas fêmeas e um macho para outra família local e, assim, dar continuidade ao projeto. 

“É uma responsabilidade enorme fazer com que essa rede se perpetue, mas esse é o meu projeto de vida. Traz muito aprendizado para a gente, além de uma perspectiva de renda que não tínhamos”, explica, com a esperança de melhorar suas condições de vida e da região onde mora.

Fonte: Revista Globo Rural - por Texto Hanny Guimarães I Fotos Ernesto de Souza